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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Capítulo 16 de 18

Enxoval

Desde que soubemos do diagnóstico, não ganhamos nem compramos mais nenhuma peça do enxoval. Mantivemos apenas aquelas que ganhamos no início da gestação. Eu mesma tinha comprado apenas um macacão, que como mãe de primeira viagem passava longe do tamanho certo para um recém-nascido. Era até engraçado.


Ao se aproximar o momento do parto, além dos questionamentos naturais, pertinentes a qualquer gestante, eu carregava outras dúvidas, aquelas peculiares ao nosso caso. Por exemplo: o que levar para a maternidade? Tanto na minha mala, quanto na mala do Miguel? Mas o Miguel não tinha mala... Não adiantava seguir as listas de dicas fornecidas na internet ou em lojas especializadas. Não era necessário ter fraldas, nem muitas roupas... Mas ao mesmo tempo, não havia previsão de quanto tempo o Miguel ficaria com a gente. E se nesse tempo, fosse necessário comprar mais coisas? Havia ainda a esperança que o quadro fosse revertido! E comentávamos: “se ele sobreviver, teremos que correr pra completar o enxoval! Mas será a corrida mais gratificante das nossas vidas!”

Para uma mãe, uma das coisas mais deliciosas da gestação é justamente preparar o enxoval. Preparar o quarto. Fazer chá de bebê. Mas durante muito tempo tive um bloqueio, tinha medo de fazer tudo isso sem saber se o Miguel aproveitaria. Não sabia nem se ele viria para casa. Tudo era uma grande hipótese. Possibilidades.

Conforme foi chegando mais perto do parto, algumas barreiras foram sendo quebradas e tive vontade de entrar em uma loja de bebês. Considerei o que seria o tempo de permanência na maternidade. Verifiquei o que eu já tinha, e o que faltava. Escolhi coisas específicas de menino, pois as coisas que ganhamos eram neutras, foi antes de sabermos o sexo do bebê. Fiquei encantada com os macacões de surfista ou “playboyzinho”. Compramos também uma manta, para enrolá-lo e deixá-lo bem protegido. E compramos a mala de maternidade do Miguel, verde, com estampa de urso, pra combinar com o Teddy, que esteve sempre presente no seu quarto.

Preparei também a minha mala. Nesse caso não tinha muito segredo. Eram camisolas, penhoir, chinelo, absorventes, produtos de higiene pessoal. Comprei também um sutiã com abertura frontal: e se eu pudesse amamentá-lo? Comprei absorventes para o seio, caso o leite escorresse. Encomendei uma cinta, pra manter uma firmeza no corpo depois da cesárea. Era isso, nada demais.

Preparei também lembrancinhas para entregar às pessoas que nos visitassem no hospital ou em casa. Era um pequeno cartão, com um ímã no verso, e na frente tinha uma imagem de um anjinho e a oração do Santo Anjo do Senhor:

“Santo Anjo do Senhor,
Meu zeloso guardador,
Se a ti me confiou a piedade divina,
Sempre me rege, me guarde,
Me ilumine. Amém.”

E logo embaixo, os dizeres:

“Miguel e seus pais agradecem a visita”

Além das lembrancinhas, montei também o quadro de boas vindas para pendurar na porta da maternidade. Fiz tudo de forma artesanal. Pintei o quadrinho, colei uma moldura rococó nas bordas e fiz uma composição com papéis coloridos e a oração do Santo Anjo pra colocar na parte de dentro. Para arrematar colei um bonequinho em forma de anjo próximo da oração. Ficou uma graça.

Deixei tudo preparado para o grande dia. Mesmo faltando pouco mais de um mês para o parto, quis deixar tudo arrumado, pois além de tudo, uma das possibilidades era um parto prematuro. Pedi ajuda para a minha mãe ao lavar as roupinhas do Miguel. Sabia que tinha de ser uma lavagem especial, sem produtos químicos para não causar alergia na pele do bebê. Depois de seco e passado, arrumei dentro da mala, cuidadosamente, sem esquecer de nada. Esses momentos que antecederam a ida ao hospital, quando comprei as peças de roupa ou quando preparei as lembrancinhas e o quadrinho, foram poucos, mas intensos. Foram momentos que despendi todo o cuidado em escolher cada cor, cada papel, cada tecido, cada botão que pudesse demonstrar ainda mais o meu amor pelo Miguel. Era como se a cada detalhe, eu colocasse toda a minha energia de mãe. Toda a energia daquela que cuida. Confesso que queria ter feito muito mais. Queria ter comprado todos os enfeites do quarto, todos os utensílios para a alimentação, todo o kit de banho, todos os itens de segurança. Mas fiz tudo o que era possível fazer. E fiquei satisfeita com isso.

Kelly Cecilia Teixeira

Um comentário:

  1. Vc minha filha...fez tudo e muito mais que uma mãe de verdade faria,por aquele que temos a certeza e egoisticamente achamos ser só nosso....Tenha certeza que o ¨MIGUEL¨não poderia ter escolhido melhores pais...Esse é o dom que DEUS deu a nós mulheres....O AMOR INCONDICIONAL....os filhos....DEUS TE ABENÇOE,e confie no SENHOR,outros filhos virão,não para substituir o ¨MIGUEL¨(pq cada filho é insubstituivel e único)e sim para preencher a sua vida e a do DANIEL com muito,mas muito mais amor daquilo que vcs já tem um pelo outro...QUE DEUS ENCHA DE MUITAS BENÇÕES SUAS VIDAS ETERNAMENTE...bjs TE AMO

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