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domingo, 26 de fevereiro de 2012

"Posfácio"

Posso dizer que essa foi a experiência mais intensa e única da minha vida! Foi um período onde vivi praticamente todas as emoções que um ser humano pode ter... um turbilhão de sentimentos e pensamentos.

Apesar de todo o planejamento para receber esse filho, a surpresa já apareceu logo de cara, com a notícia da gravidez, pois imaginávamos que ainda teríamos alguns meses de tentativas até termos êxito, já que a Kelly havia acabado de interromper o uso da pílula. Daí até completarem-se os três primeiros meses foi um misto de alegria, euforia, perplexidade... parecia que ainda estávamos meio anestesiados... parecia meio sonho, meio realidade... e a ausência da saliência na barriga, devido ao pouco tempo de gestação, da falta de movimentos do bebê, pois ainda era minúsculo, e também da falta de enjôos e mal-estares da Kelly, não nos faziam sentir que logo seríamos pais de verdade. Mas já estávamos curtindo muito a ideia e toda a novidade.

Quando recebemos o diagnóstico sobre o problema com o nosso bebê, parece que uma força puxou-me ao chão, me fazendo centrar em meu próprio corpo. E passados os primeiros momentos e dias de desespero, angústia, medo e tristeza, senti uma conjunção enorme entre meu corpo, coração, mente e espírito, mostrando que precisaria realmente estar inteiro, de corpo e alma, naquele momento de nossas vidas, principalmente para ser o arrimo sólido e confiável para minha querida esposa e para o filho que geramos. A cada dia, a cada palavra amiga, a cada prece e boa vibração, a cada reunião e passe recebido em nosso Centro, a cada encontro do grupo de terapia... sentia nitidamente o acúmulo de luz e boas energias em torno de nós, nos fazendo sentir fortalecidos e amparados o tempo inteiro. Acho que nunca estive tão perto de Deus, Jesus e da espiritualidade quanto nesse período. Lembro-me, em uma das sessões de passe que recebemos, de ter tido a imagem perfeita de uma mão gigantesca sendo estendida a mim, como se o próprio Mestre Jesus estivesse me dizendo “venha, meu filho! Eu estou aqui! Confie em mim! Você pode enfrentar tudo isso!”... E todas essas coisas nos faziam sentir cada vez mais confiantes em Deus, num tremendo exercício e teste para nossa fé. A certeza de que estávamos amplamente amparados por todos os lados e de que tínhamos feito a melhor escolha, que era a de deixar tudo acontecer conforme a vontade de Deus nos deixava com o coração leve e a consciência tranqüila.

Senti-me tão preparado e confiante, que consegui acompanhar a Kelly em todos os momentos, inclusive na sala de parto (que era um dos meus receios, antes mesmo da gravidez acontecer), pois eu sabia que a minha presença seria muito importante, reconfortante e necessária para ela.

Logo após o parto, fui chamado para uma outra sala, onde os bebês que nascem vão sendo recepcionados e acolhidos. Ainda no corredor, uma das médicas conversou comigo, confirmando o diagnóstico de todo o problema e que o coraçãozinho dele já estava batendo mais fraco, me dizendo que eles não iriam realizar nenhum procedimento de reanimação ou conexão com qualquer tipo de aparelho, pois tudo seria muito agressivo e sem muito sentido naquele momento, esperando assim que parasse de bater completamente. Entramos nessa sala e ela me conduziu até o berço onde estava o Miguel, todo peladinho e imóvel, mas ainda quente. Não conseguia parar de chorar, meu coração estava muito acelerado e sentia um enorme calor também. Era um sentimento ambíguo: a felicidade de ser pai e ver o filho pela primeira vez, mas a tristeza por toda a situação e por saber que já estávamos nos despedindo. Coloquei o dedo entre seus dedos, na esperança de algum pequeno aperto ou contato, e depois coloquei a mão sobre seu peito e só consegui dizer “Oi, Miguel! Eu sou o seu papai! Fica tranqüilo que vai ficar tudo bem...”. E logo sai para voltar a dar apoio à minha esposa.

Foram momentos extremamente paradoxais, que nos fizeram refletir e vivenciar a alegria e a tristeza, a vida e a morte, a angústia e a euforia, a certeza e o medo... Mas nada disso nos impediu de procurarmos dar o melhor ao nosso pequeno Miguel, de curtir toda a sua gestação, todos os momentos em que esteve conosco, através de músicas, fotos, conversas, carinho, afagos, brincadeiras, viagens, orações e tudo o mais que qualquer pai e mãe vivencia com seus filhos, independentemente das fases da vida ou do tempo em que passem juntos.

E acho que essa é a lição que devemos tirar de tudo isso: que estamos aqui de passagem, uns por mais, outros por menos tempo; mas que a vida é uma oportunidade única para aprendizados, experiências e, principalmente, a vivência do amor entre todas as pessoas. E, se esse amor puder ser incondicional, tanto mais perfeito será!

Aproveitemos o tempo para a construção de coisas boas, no caminho do bem, e sempre ligados a Deus, pois só Ele é quem sabe aquilo que é melhor para o crescimento de cada um de nós.

Temos a certeza de que o Miguel hoje está melhor do que antes, e pôde aproveitar da melhor maneira essa experiência única. Acredito, inclusive, que ele teve um grande merecimento, e foi poupado de maiores sofrimentos após o seu nascimento e desligamento. Para mim ficou a clara sensação de que ele “nasceu aqui e, logo em seguida, já nasceu lá do outro lado novamente”. E que possamos seguir o seu exemplo de coragem, luta e determinação...

Agradeço imensamente a todos os que nos apoiaram, de perto ou de longe, pessoalmente ou em pensamento, durante todo o processo ou depois dele e até agora, aos que estiveram do nosso lado todo o tempo ou só por alguns momentos. Que Deus os abençoe sempre!

Um pai feliz pelo dever cumprido.

Daniel Fermino Ribeiro

3 comentários:

  1. Nossa....muito emocionada e feliz ao mesmo tempo,pq pra mim não era nenhuma surpresa,essa atitude de vc DANIEL meu genro....Que para mim e o CARLOS ALBERTO,vc tbm é e sempre será um filho...Tenho muito respeito e admiração tanto por vc como pela KELLY que é minha filha amada,não existe amor mais bonito,quando se tem respeito,admiração,cumplicidade,companherismo etc....DEUS com certeza lhes trará outros filhos,que fará jus ao grande amor que vcs sentem um pelo outro,e a memória do nosso MIGUEL,estará sempre presente em nossos corações,pq a cada ser que amamos incondicionalmete é único e insubstituível...Obrigada DANIEL por fazer parte da minha família....QUE DEUS OS ABENÇOE MUITO...

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  2. é.....como eu sempre faço questão de dizer...vcs realmente são seres iluminados!!!! Linda a missão e a forma como reagiram diante desse grande momento de muito apredizado! Obrigada novamente por compartilharem esse momento, deixando q outras pessoas possam aprender e sentir esse AMOR INCONDICIONAL q vcs transmitem!!!! Daniel, como eu já disse outras vezes, gostaria muito te um dia ter a oportunidade de compartilhar mais da sua presença, mas mesmo assim quero q saiba q fiquei muito feliz da vida ter aproximado vcs novamente de mim......mesmo um pouco longe (e tão perto, né?! rs).....eu sempre aprendo muito com vcs!!! vou repetir as palavras da sua sogra.....obrigada à vc Daniel e à vc Kelly por fazerem parte da minha família!!!!! fiquem em paz e que Deus continue iluminando cada dia mais a vida de vcs!!!!

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  3. OLha, eu passei uma tarde inteira há uma semana lendo todos os posts da Kelly, me emocionei muito com a história e com a força, esclarecimento e com a postura que vocês tiveram. Eu tive um bebê que nasceu muito prematuramente, com apenas 1200kg , tive muitas dúvidas e questionamentos. Ela ficou 39 dias na UTI, era muito difícil sair da maternidade sem a minha filha e foram os dias que mais cresci como ser humano. O que acredito é que a gente aprende, cresce e nos tornanos pessoas melhores de acordo com as escolhas que fazemos, de a coração aberto e consciencia limpa. Obrigada por compartilhar essa história que pode ajudar a tantas outras pessoas. Deus esteja com vocês.

    Tânia Lima

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