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segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Capítulo 05 de 18

A notícia

A notícia da gestação causou quase uma comoção nacional. Na família, por parte de pai, eu era a última neta que faltava ter filhos. Tanto meu irmão, quanto minhas primas diretas, embora mais novas do que eu, já tinham seus rebentos, e por isso, estavam todos ansiosos. Foi uma festa. Por parte de mãe, apesar da família grande, com muitos primos e sobrinhos, a notícia não fez menos sucesso. Estavam todos felizes com a nova gestação. Já na família do Daniel, nosso bebê seria o primeiro neto, mas teria alguns priminhos mais distantes pra brincar.


Na primeira visita pós-notícia, já ganhamos sapatinhos, panos de boca, meias e uma linda manta branca de plush. Mesmo já casada e com 30 anos, foi naquele momento que eu tinha definitivamente passado para o mundo dos adultos. As mulheres da família, mãe, avó, tia, primas, todas me davam recomendações do que fazer e do que não fazer, além de contar suas próprias experiências de gestação. As primas, que faziam parte da geração mais nova, davam dicas mais atualizadas desmentindo as receitas mais antigas. Era um ti-ti-ti eufórico, todas falavam muito e ao mesmo tempo. E eu ali no meio olhando de um lado pra outro, quase sem reconhecer o que elas diziam, como se o som se neutralizasse e eu visse apenas os movimentos, as risadas, os toques na minha barriga. Eu estava feliz da vida por integrar aquele grupinho de mães.


No trabalho, a notícia também foi muito bem recebida. Apesar de ter um pouco mais de um ano de empresa, já tinha feito muitos amigos, e todos ficaram bastante contentes. Foram vários abraços, congratulações e gritinhos histéricos das amigas mais próximas. Era um estado de graça geral. Mal havia passado o estado de euforia inicial, logo vieram os cuidados: “você precisa comer direito”, “não pode pegar peso”, “evite subir escadas”, “não pode passar nervoso”, entre outras recomendações não menos importantes. Recebi e-mails, telefonemas e também alguns presentes acompanhados de lindos cartões desejosos de bastante saúde.

Na turma de amigos, outra festa. O núcleo principal era formado por dois casais com filhos, dois casais sem filhos, um casal de namorados, dois solteiros e agora, um casal de grávidos. Todos viviam o tempo todo juntos. Muitos se conhecem desde a infância, quando freqüentavam as aulas de evangelização na Federação Espírita de São Paulo. Por terem quase a mesma idade vivenciaram momentos parecidos ao longo da vida: foi a mesma época quando todos entraram na faculdade, a mesma época quando começaram a namorar, a mesma época quando se casaram, e naquele momento havia uma expectativa de qual seria o próximo casal a ter filhos. Eu e o Daniel fomos os premiados. Por um lado, os amigos com filhos nos diziam o quão incrível era serem pais e que sentimento mais verdadeiro era o amor por um filho. Por outro, os casais sem filhos, nos diziam das novas responsabilidades que estavam por vir e das concessões que teríamos que fazer nessa nova fase de vida, como se assim também adiassem uma empreitada parecida. No meio das brincadeiras e dos conselhos poéticos ou pé no chão, havia o sentimento de irmandade, como se todos os amigos automaticamente se tornassem padrinhos e madrinhas daquele novo amigo que passou a fazer parte da turma.

Em todos os lugares ouvimos parabenizações seguidas de conselhos, mas todos muito verdadeiros. Foi incrível sentir toda aquela energia por onde quer que passássemos ou pra quem quer que contássemos. Era como se tivéssemos ganhado na loteria. Não me lembro de ninguém que não tenha aberto um sorriso ao saber que um novo bebê estava a caminho.

Kelly Cecilia Teixeira


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