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quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Capítulo 08 de 18

Encontros

Entre os exames pedidos pelo Dr. José Domingos estava a ultra-sonografia morfológica de 1º trimestre, que eu agendei assim que cheguei em casa. Enquanto aguardava o dia, vivia na internet pesquisando sobre a gestação e o que acontecia em cada fase de desenvolvimento. Descobri vários sites que mostravam semana a semana tudo o que poderia acontecer com o meu bebê. Em um deles, dizia que naquela semana de gestação o bebê podia perceber alguns sons e que seria bacana a mamãe e o papai conversarem com ele, e que se houvesse alguma música preferida, cantar para o bebê. Se ele ouvisse a mesma ou as mesmas canções dentro da barriga com freqüência, muito provavelmente ele as reconheceria fora também. Além disso, esse tipo de atitude reforçaria os laços de amor e carinho entre os pais e o bebê.


Assim que soube disso, procurei conversar sempre com ele. No início parecia meio absurdo, como se fosse maluca e estivesse falando sozinha. Ficava envergonhada se estivesse na frente de alguém. Mas aos poucos fui me acostumando e depois achava um barato porque era como se tivesse um cúmplice para quem pedia opiniões e compartilhava os pensamentos.

Num certo dia, de manhã ao despertar, o Daniel abriu a janela do quarto e o dia estava lindo, com um céu azul de dar gosto e o sol brilhante a raiar. Era sábado e estávamos tranqüilos em casa, sem nada pra fazer. Continuamos na cama por um tempo, e deu aquela preguiça gostosa de ficar deitada sentindo o sol que iluminava o quarto. Como não estávamos sozinhos, ele deu um beijinho na minha barriga desejando um bom dia para o nosso bebê. Nessa hora, ele se lembrou de uma música que cantava para as crianças na evangelização, assim que elas chegavam para a aula, e repetiu com o rosto pertinho da minha barriga:

“Bom dia, muito bom dia,
Que bom que você chegou
O nosso coraçãozinho
Ao vê-lo feliz ficou.”

Adorei aquela canção. Simples e deliciosa. Pedi pra ele repetir para que eu pudesse aprender, e cantei novamente para o nosso filho. Estava eleita a música que cantaríamos todos os dias para ele.
Chegado o dia para o exame, fomos eu e o Daniel. O médico era o Dr. Leonardo, que nos recebeu super bem. Deitei e me preparei. Era como se ao ver o nosso bebê no monitor fosse um encontro “cara-a-cara”, como se ele soubesse e pudesse acenar para a gente. Engraçado.

O DVD estava pronto para gravar e começamos o exame. Foi uma surpresa ver que ele tinha se desenvolvido tanto! Não era mais somente um “feijãozinho” como na última ultra-sonografia. Embora estivesse ainda no início da sua jornada, já era possível identificar os seus contornos de bebê. A cabeça, ainda desproporcional ao corpo, os bracinhos e perninhas. Que lindo! Eu e o Daniel trocávamos olhares orgulhosos, quando conseguíamos desviar do monitor do aparelho. E que serelepe! Nosso bebê, obviamente não acenava como eu havia de brincadeira imaginado, mas mexia bastante, levantava a cabeça e as perninhas, como se estivesse brincando dentro da água. Era uma diversão.

Embora aqueles instantes parecessem eternos, foram poucos minutos até o Dr. Leonardo interromper o exame:

- Não será possível fazer o exame hoje. O feto ainda é muito pequeno e podemos tirar conclusões erradas. Voltem na semana que vem, nesse mesmo horário. Não será necessário marcar uma nova consulta. Venham direto na recepção da sala e falem com a enfermeira-chefe.

Conformados, saímos da sala e viemos embora. Apesar de não ter concluído o exame com as informações necessárias, estávamos felizes por ter visto nosso bebê brincando dentro da minha barriga.

Naquela semana, meu irmão e meu sobrinho faziam aniversário e fomos comemorar na casa da minha mãe. Levei o DVD e orgulhosa, mostrei para todos os convidados como o nosso bebê era lindo. Todo mundo ria e se impressionava como ele mexia tanto. Era um estado de graça, todo mundo me abraçava e desejava boa sorte. Na hora dos parabéns, meu irmão fez um discurso e embora ele fosse o aniversariante, resolveu fazer uma homenagem a todas as mães presentes. Distribuiu uma flor e um CD com uma oração a cada uma, inclusive a mim. Foi uma delícia participar daquele seleto grupinho...

Um dia antes de voltar ao laboratório para repetir o exame, fui a uma exposição de arte como parte de um treinamento do trabalho. Uma das obras chamava-se “Árvore dos desejos”, da artista plástica Yoko Ono, e consistia em diversas pequenas árvores, onde as pessoas podiam interagir anotando em um papelzinho um desejo secreto e pendurando em um de seus galhos. Não tive dúvida em participar da brincadeira e fui logo anotando:

“Eu desejo que meu filho nasça com muita saúde”.

Satisfeita, pendurei o papel no galho da árvore e mentalizei novamente o desejo enquanto amarrava o cordão.

Kelly Cecilia Teixeira


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